sexta-feira, novembro 12, 2010

Prólogo

Apresento o prólogo do livro que escrevo.
Peço que comentem. É importante saber a opinião de vocês, já que pretendo publicá-lo.
A imagem requer explicação...
Ela exemplifica com clareza a quantidade de artigos, periódicos e livros (livros são dois) que precisam de conclusão.
      
Minutos antes da aparente calmaria, Pedro e Mônica conversavam sobre o arrombamento do cofre do senhor Silas. Nenhum objeto se perdeu e aparentemente tudo estava em seu devido lugar, no entanto, senhor Silas ficou exageradamente tenso. Interrogou os empregados sob ameaças de morte.
- O velho está ficando caduco! Sussurrou Mônica se aproximando dos ouvidos de Pedro.
- Senhor Silas coleciona incontáveis esquisitices, admito, mas sempre foi metodicamente organizado e está longe de perder o juízo – Silas esboçou um sorriso discreto como quem acha graça dos seus próprios pensamentos... Certamente lembrou-se de alguma esquisitice de Silas e teve certeza que a redundância “metodicamente organizado” que utilizara para descrever o comportamento do seu velho amigo era mais que apropriada, e continuou a conversar, agora, em um tom desconfiado – Imagino que o Senhor Silas não se exaltaria se metade de seus investimentos tivessem se perdido na noite do arrombamento, afinal, que falta isso faria? Ele poderia comprar um continente se quisesse.
Mônica arregalou os olhos e por um minuto parecia que o ar havia fugido pelas janelas do salão. Nunca imaginou que o senhor para quem trabalhava há dez anos tinha tanto dinheiro. Quando recuperou o fôlego, murmurou com aspereza – Velho pão-duro! Vou pedir aumento de salário! E prosseguiu com o seu raciocínio, mas sua expressão havia mudado – Não entendo porque o senhor Silas se comportou daquele jeito... Ameaçando nos matar? - Sua voz parecia engasgada como se seu coração tivesse sido atravessado por um punhal.
- Minha velha amiga, tente perdoá-lo por este episódio de insanidade. Sei que foi lamentável... – O olhar triste de Pedro encarava o rosto de Mônica e ela assentiu com a cabeça indicando que compreendia aquelas palavras, mas Pedro quis completar seu pensamento. - Servimos ao senhor Silas tempo o suficiente para saber que ele é um bom homem. Ele só precisa de tempo para refletir... Sua mente ficou perturbada pelo que aconteceu e...
- E pensou que podia nos ofender daquela forma? Interrompeu Mônica visivelmente decepcionada.
Repentinamente, o diálogo cessou, pois o relógio de pêndulo holandês, talhado em madeira, anunciava que a manhã chegaria em poucas horas e os dois acharam melhor continuar a conversa em outra oportunidade. Eles se cumprimentaram e saíram silenciosamente pelo extenso corredor.
Ao lado da lareira, entre a mesa modelo aspen e a imponente estante de livros, repousava Lúcia. Sua respiração ofegante podia ser ouvida por todo o salão, mas ela estava só... Perdida entre pensamentos fragmentados.
Escondida pela penumbra do salão, a presença de Lúcia não foi notada pelos empregados, que caminhavam rumo aos seus aposentos.
Por alguns instantes seus olhos permaneceram fechados e seus pensamentos repassavam as palavras de Pedro e Mônica.

Silas - como Lúcia costumava chamar o avô – sempre foi misterioso demais. Lembro-me que quando criança dizia que seu escritório era território proibido e como em um jogo, obedecia às ordens do comandante. As palavras de Pedro faziam sentido... Silas agiu de um modo que me assustou e olha que estou habituada aos seus exageros e sua mente criativa... Criativa, para não dizer maluca. Refletia Lúcia.

Lúcia recordou da relação amigável que sempre teve com o avô. Das brincadeiras e dos discursos que pareciam inspirados pelos livros da Agatha Christie e Dan Brown e tentou abafar seu riso com a mão. Invadida pelas lembranças do avô, esforçou-se para retomar sua linha de pensamento e incomodou-se ao perceber que suas perguntas não a levariam a nenhuma conclusão.
-Por que Silas irritou-se daquela maneira? Perguntava para si mesma, mas como todos, ela não tinha nenhuma resposta.
O som do pêndulo do relógio atraía bocejos. O sono chegava paulatinamente e Lúcia brigava com seus olhos que insistiam em se fechar.  Esforçou-se para focar sua atenção nos quadros pendurados pelo salão, que a encantavam desce de criança, na tentativa de ludibriar o sono, mas em poucos minutos ela adormeceu aquecida pelo fogo da lareira, deixando seus cabelos longos e negros, escorregarem pelo seu rosto redondo e pálido. 


Danielle Faria. 

Sei que o conteúdo postado é curto, mas preciso conservar o mistério. Inicio o 4º capítulo e, aos poucos, o livro ganha forma e minha escrita caminha livremente.
Quando publicá-lo vocês estarão nos "agradecimentos".
Abraços e obrigada!
 

terça-feira, novembro 09, 2010

Comentários... http://www.gloriafperez.net/

O que se segue são três comentários que postei no blog da Glória Perez. 
Demorei um pouco para realizar postagem aqui... Afinal, são só comentários que escrevi em momento de grande emoção.
Visitem o blog da Glória! Conheçam a história da Daniella Perez! Conheçam a dançarina, a menina alegre, a filha carinhosa, a esposa amorosa, a Dany cheia de vida!
Conhecer a Dany pelos olhos da Glória emociona.


1º comentário:

Danielle 11. Aug, 2010 at 6:22 am #
Tinha nove anos…
Era um dia ensolarado na cidade de Arcos, interior de Minas Gerais.
Lembro que gostava de deitar no quintal e observar as nuvens que, cuidadosamente, desenhavam o céu.
Enquanto fantasiava sobre princesas, castelos, dragões – inspirada pelos movimentos das nuvens - o lado mais sombrio do ser humano me foi apresentado por duas pessoas: Guilherme de Pádua e Paula Thomaz.
Ouvi minha prima gritar: “Dani, a Daniella Perez morreu!”.
– Morreu? Como assim morreu? Estava doente? Assistimos ela na televisão ontem! Respondi.
Nesta época, minhas primas e eu brincávamos de interpretar. Em função da semelhança dos nossos nomes, sempre fazia a personagem da Daniella da novela “De corpo e Alma”.
Foi tudo confuso, doloroso demais…
Recordo que chorei o dia todo e me escondi entre as árvores do quintal com uma foto da Daniella nas mãos.
Ninguém compreendia o motivo de tantas lágrimas! 
Hoje consigo explicar porque chorei.
Naquele dia, meus castelos e princesas desapareceram. A crueldade deixou de ser abstrata e ganhou significado.
Uma vida interrompida… Não porque o corpo adoeceu! Não por acidente! Um ser humano decidiu que o outro não poderia mais viver. É difícil compreender isso quando se tem nove anos! Na verdade, ainda não compreendo.
A Daniella partiu levando com ela um mundo em que o mal não existia… O mundo em que eu habitava.
Cresci assistindo a impunidade.
Ainda hoje, quando olho as nuvens, lembro da Daniella com muito carinho.

2º comentário:

Danielle 12. Aug, 2010 at 3:32 am #
Ontem não consegui dormir depois de postar uma mensagem aqui no blog. Não conhecia esse espaço e só tive acesso ao mesmo porque você (Glória) escreveu uma mensagem no twitter.
Chorei muito porque ao assistir os vídeos, ver as fotos e os recados que a Dany escreveu, muitas lembranças reapareceram.

Hoje, por volta das onze horas, perguntei a minha mãe qual foi minha reação quando anunciaram a morte da Daniella. Fiquei surpresa diante da resposta… Quantas lembranças recalquei!
Escrevo estas palavras porque imagino que você, Glória, gostaria de ler…
Não é minha intenção que elas sejam publicadas. Afinal, esse é um espaço da Daniella e eu escrevo minha história… O encontro da história da Daniella com a vida da Danielle.

Uma caixa, uma foto e um batom vermelho:

Brincava de ser Yasmin…
Todos os dias a novela “De Corpo e Alma” era “reeditada” pelas minhas primas e eu ao brincar de faz de conta.
Certo dia, Yasmin desapareceu das cenas da novela e minha capacidade de “reeditar” se foi.
Aos nove anos já compreendia que a Yasmin era a personagem interpretada pela atriz Daniella. Se a Yasmin ganhou vida pela interpretação da Daniella e a vida da Daniella foi roubada, logo as duas se foram. Este foi meu raciocínio.
De acordo com minha mãe, fiquei apática durante dias e escutava incessantemente a música internacional da personagem Yasmin. Recusava os convites das minhas primas para brincar de faz de conta, alegando que não conseguia FAZER DE CONTA que a Daniella estava viva quando, na verdade, tinha sido furada por golpes de tesoura – segundo minha mãe, essas foram minhas palavras.
Todos os dias levava para escola uma foto-pôster da Daniella. Atrás da fotografia estava escrito: “Para minha xará, um beijo carinhoso. Adorei conhecer você!”
Como eu queria que essas palavras fossem reais! Mas elas não eram… Fui eu quem as escreveu.
Assim que descobriram minha “farsa”, fiquei sem recreio. Na época, não consegui argumentar e nem tinha entendimento para tanto, mas a “farsa” era para amenizar o impacto que a morte da Daniella provocou… Era a tentativa de vivenciar o que jamais teria chance de experimentar porque ela tinha partido.
Depois deste fato, existe uma lacuna e não recordo como reagi e/ou quando retomei as brincadeiras de faz de conta.
Motivada pelo comentário que postei no blog ontem, abri uma caixa de guardados e encontrei, dentre outras recordações, a foto da Daniella com minha escrita atrás. Achei, também, uma foto minha usando um batom vermelho imitando a posição da Dany na foto-pôster. E, por último, li um papel com as seguintes palavras: “Também adorei conhecer você Daniella! Você é linda! Tenho saudade!” (palavras escritas por mim… Não havia data).
Muitas perguntas nunca terão respostas… Tantos anos se passaram, mas foi no dia do aniversário da Dany, no ano de 2010, que muitas lembranças foram resgatadas. Uma coisa é certa e não mudou: “Adorei conhecer você Daniella! Você é linda! Tenho saudade!”
Sinto saudade do que não vivi…
Danielle Faria.
 3º comentário: A CARTA

Essa imagem diz tanto...
Danielle Faria 27. Nov, 2010 at 5:05 pm #
Poderia até explicar o contexto, mas é uma explicação longa demais.
Esse comentário, na verdade, é uma carta endereçada a Dany. Espaço mais apropriado que esse para deixar a carta não há (no caso, o espaço referido é no blog da Glória) .

Querida Dany,
Há tempos quero escrever-lhe, mas aconteceram tantos episódios depois daquele dia. As nuvens ficaram cinzentas, as princesas desapareceram e o universo fantasioso, onde eu vivia submersa, necrosou… Foi tudo tão confuso!
Sabe Dany, fiquei verdadeiramente perdida e criei várias teorias na tentativa vã de explicar o porquê da crueldade que fizeram a você. A razão era persistente e até teorizava em demasia, mas meu coração refutava qualquer tese. Desculpe minha reclusão e meu silêncio necessário.

Depois daquele dia…
Depois de ter experimentado o gosto amargo das lágrimas, voltei a brincar de faz de conta.
Se essas palavras tivessem sido escritas de imediato, ainda seria criança e, sem dúvida, contaria a novidade do faz de conta erguendo-me na ponta dos pés para alcançar seu ouvido e diria cochichando – aquele cochicho que só a criança acredita que os outros não estão ouvindo, porque a voz é tão “baixa” quanto um grito – Diria: “Dany, hoje consegui brincar de faz de conta… A Yasmin bateu no personagem-assassino e ele não faz parte da novela… Eu, brincando de ser Yasmin, o expulsei e agora você pode dançar. Mas aqui, não conta para minha mãe… Ficaria de castigo por bater em alguém”. Falaria isso aos oito/nove anos, Dany. Agora, é um pouco tarde para cochichar, mas sim, voltei a sorrir.
Penso que essa notícia a deixará contente porque a tristeza não me consumiu e não consumiu muitos que você ama.
Na verdade, o ser humano tem uma capacidade incrível de transformar a tragédia em força para seguir adiante!
Tenho certeza que compreende essa força mais do que minhas palavras dão conta de explicar. Veja sua mãe. Fez um blog – que você, indubitavelmente, conhece. Mesmo em momento de extrema dor ela lutou… Foi corajosa! Denunciou, mobilizou e deu à luz a primeira emenda popular da História do Brasil. 
Agora, ladrões de vidas não ficam passeando por ai a espera de julgamento. São presos!
As pessoas te amam e sentem sua falta… Eu também…

Sinto tanto Dany! Sinto muito pelo o que aconteceu… Por terem roubado os seus sonhos, levado seu sorriso, silenciado sua voz… Seu grito! Queria eu estar lá… Queria eu mudar a direção do punhal e jogá-lo no vazio!
Se eu estivesse lá… Se tantos outros que a amam estivessem, soubessem… A história seria outra.
Infelizmente, essa história já está escrita e sabemos que o “SE” só paralisa, sucumbe, perece… É como patinar num tremedal. Faz-se um esforço imensurável para sair do lugar e o resultado é afundar ainda mais.
A história está escrita e sigo adiante. Crescida demais para fazer de conta, mas madura o suficiente para compreender os fatos.
Existem tantas perguntas que queria fazer, tantos fatos que queria saber, mas em momento oportuno pergunto pessoalmente.
Se me permite… Só uma pergunta: que música mais gosta de dançar neste novo palco? 
É que daqui o som é inaudível e meu olhar não consegue acompanhar os passos da bailarina.
Saudade!
Abraços e até logo!
Dani.

Blog que recomendo: http://olharbeheca.blogspot.com/2010/04/guilherme-de-padua.html?spref=tw (Olhar comportamental - análise da entrevista do Guilherme de Pádua no programa do Ratinho)


sexta-feira, novembro 05, 2010

Carta Inacabada

Na postagem anterior – “Confissões” – descrevi alguns momentos que vivi na universidade.
Nesta postagem, o assunto formação profissional é retomado. Decidi expor uma carta escrita em um momento muito peculiar. Considero-a um desabafo...

Concluir a graduação significa que você está apto, pronto para o mercado de trabalho. Mas imagine que dias antes da formatura todos os seus passos eram supervisionados por um professor, a maioria das suas decisões eram discutidas e avaliadas por um grupo de profissionais experientes. De repente, depois de uma noite de lágrimas, despedidas, brindes e valsas, percebe que a camisa de estudante fica ridícula em você. Hora do primeiro trabalho!
Aos poucos começa a notar que seu conhecimento é mais limitado do que pensava. Liga para os colegas, revê disciplinas dos primeiros anos de faculdade, manda email para o antigo (que nem é tão antigo assim) professor...
Foi nesse contexto, que resolvi escrever uma carta... Poucos meses depois da formatura.
Segue:

Caros colegas,

Perdi noites de sono tentando transformar meus sentimentos em palavras. Desejo, fervorosamente, descrever a Psicologia. Não a Psicologia expressa por ementas ou grade curricular. É a Psicologia que sinto pulsar em minhas veias, construída a cada dia no encontro com alteridade.
Agradeço a Freud, a Rogers, a Skinner, Winnicott, Piaget e muitos outros teóricos que apontaram caminhos possíveis para a compreensão do ser humano, no entanto, minha gratidão maior são pelos PedroS, AlbertoS, MariaS... Anônimos que confrontam cotidianamente as teorias que, erroneamente, pensei que explicassem tudo.
É isso mesmo! Explicar tudo é impossível!
Entrei na universidade com um ponto de interrogação e saí dela com centenas deles, e não pensem que isso é ruim, pois não é! A dúvida é provocante e impulsiona na tarefa de saber sempre mais.
Por vezes, ouço um ou outro tentando acalmar minha inquietação: “Não se preocupe, você se acostumará.” Em silêncio respondo: “Não quero me acostumar! Acostumar com a dor, a angústia, a pobreza, a corrupção nos órgãos públicos?”
Acostumar-se é ficar satisfeito com respostas simples e prontas. É recusar-se a refletir sobre sua prática dentro do hospital, da escola, da organização, do CRAS, do CREAS... É inércia! E vamos combinar que psicólogo somado a inércia é igual à contraproducência. Psicólogo rima com mudança, reflexão, promoção da saúde...
Tenho pressa, tenho fome de saber!
Sinto raiva, esperança, cansaço, alegria, revolta, entusiasmo... Os mesmos sentimentos que coincidentemente estudei e ironicamente tenho dificuldade de administrar.
Assisto a miséria humana no seu estado mais real. Pessoas entregues ao vício... Dias sem comer, sem tomar banho... Já vi animais em condições melhores! Dói na alma ver seu semelhante em condições nada semelhantes a sua.
Tenho trazido trabalho em excesso para casa, pois não durmo. Sinto-me como Fernando Pessoa descreveu: “tenho em mim todos os sonhos do mundo!”. Com tantos sonhos assim deveria dar conta de escolher um para começar, mas não consigo.
Essa psicologia ninguém ensina. Trabalhar com a vulnerabilidade social tornou-se mais que um desafio. Precisamos, de fato, ser agentes de mudança.
Desejo que todos estejam bem! 

Danielle Faria.

Essa carta ficou guardada quase um ano. Depois decidi enviá-la para parte dos meus colegas.
Na época em que foi escrita, trabalhava na assistência social, um campo de trabalho novíssimo para a psicologia.
A carta foi o resultado da ansiedade diante desse campo de trabalho que ainda estava sendo construído - participei do 1º encontro nacional para debater sobre o Sistema Único da Assistência Social, daí se tem uma ideia quando refiro-me ao campo de trabalho novo.
Acredito que todos, independente da profissão que exerçam, precisam ser agentes de mudança.
Fica a reflexão!

quinta-feira, novembro 04, 2010

Em 1992...

Em 1992, estava na 2ª série (8 anos de idade) e fiz esse poema:


Quero ser...

Quero ser astronauta e tocar as estrelas
Sair batendo asas como uma borboleta
Ou me agarrar na cauda de um cometa
Só para visitar outros planetas

Quero ser artista
Brincar com aquarela
Espalhar tinta no carpete
Aprender a pintar o sete
E gravar minha arte no vídeo cassete

Quero ser médica
Para os outros ajudar
Mas não daria injeção
Só remédios para acalmar o coração

Quero ser tudo!
Quero ter asas...
Quero pintar o sete...
Quero dos outros cuidar...
Só que agora, não faço nada além de sonhar!


Danielle Faria.

Achei essa produção em uma revista da minha cidade... Além da surpresa, a emoção.

terça-feira, novembro 02, 2010

O cheiro do amor


A organização espacial das residências do meu bairro, conta as histórias das relações entre os familiares. É muito interessante analisar as famílias nesta perspectiva!
Vou descrever como se organizavam as casas dos meus familiares...
Imaginem a extensão de sete a oito lotes. No meio desses lotes, na parte inferior foi construída uma casa onde meus tios maternos cresceram. Quando meus tios chegaram à idade adulta, se casaram e construíram suas casas nesses lotes.
Olhando da rua era tudo muito comum... Casas vizinhas com muros dividindo os limites de cada propriedade, no entanto, os muros não delimitavam todo espaço do terreno. Menos da metade! Dessa forma, a casa dos meus tios e a minha pertenciam a uma enorme chácara. Os fundos da minha casa não eram meus... Eram de todos os meus familiares e meus avós eram o centro dessa grande família.

Cresci entre pés de goiaba, parreira, manga, acerola e nove primos. Uma confusão gostosa e engraçada! Não era muito diferente do filme “Casamento Grego”.
Imaginando a organização das casas dos meus familiares, pode-se imaginar, também, que nossas relações eram muito estreitas, semelhantes aos muros dos lotes. Cada um tinha seu espaço, mas rapidamente esses espaços se misturavam.
Quando era bem criança, no meu primeiro e segundo ano de vida, morava com meus avós e meus pais. Minha mãe conta que chamava minha avó de mãe. Na verdade, as duas eram chamadas de mãe... Na minha cabeça era tudo igual!
A relação com minha avó também era muito próxima, como é possível notar.

 Como toda criança, era inquieta e curiosa e logo me ocupei sobre as questões que envolviam a morte. Tinha dezenas de teoria que rapidamente se dissipavam, pois mais e mais dúvidas surgiam. 
Após a morte do meu avô, essas dúvidas viraram sofrimento e a minha avó disse: - “A única certeza é o amor que fica no coração... É o amor que pulsa e todo amor tem cheiro!”
A resposta da minha avó aquietou meu coração!
Depois de terem me explicado sobre o céu e que as pessoas não ficam tão longe como, as vezes, pensamos, outra questão tirava meu sossego: - Como vou encontrar meu avô no céu? Se todo mundo que morre vai para lá, o céu está lotado! Esse era meu raciocínio.
Logo que a dúvida surgiu, saí afoita em busca de respostas... Então, minha avó explicou que o amor tem um cheiro diferente. Parece cheiro de perfume e quanto maior é a intensidade do amor, mas forte sentimos  seu aroma.

- "É dessa forma que encontraremos seu avô! Não se preocupe! Cada pessoa tem um perfume diferente". – Falava vovó com a voz tranquila.
Ela pediu que eu fechasse os olhos e aproximou do meu nariz duas plantas com aromas distintos. Rapidamente abri os olhos e respondi sem vacilar: - Hortelã e dama da noite! - Era impossível errar! – Sorrindo minha avó concluiu: - Assim como o cheiro da dama da noite é diferente do cheiro da hortelã, seu avô terá um cheiro que será só dele e de ninguém mais, porque a única certeza é o amor que fica no coração e o amor também tem cheiro!

Meu coração ficou mais calmo e não tive dúvidas de como iria encontrar o vovô.
Dez anos depois, minha avó iria partir... Sabíamos que seu corpo estava adoecido e morria.

Pensei que havia me preparado para dizer adeus, mas o adeus é sempre inesperado... O coração se assusta com o 'nunca mais'.
Estávamos vivendo uma época complicada. Vovó ficava mais no hospital do que em casa. 
Um dia achei melhor ir para o hospital, assim minhas tias poderiam descansar um pouco, pois estavam exaustas.
Mesmo sob protestos, não arredei nenhum centímetro da cabeceira da cama onde minha avó estava deitada. Assistindo a minha teimosia, minhas tias acharam melhor fazer o que eu sugeria.
Vovó estava bem fraquinha... Quase não falava, mas estava lúcida. Vez ou outra dizia uma ou duas palavras. E eu com a minha mania de tagarelar: falava sobre o tempo, sobre o capítulo da novela, sobre o cachorro, os treinos de vôlei, sobre minha indecisão entre os cursos de medicina e psicologia... E ela sempre me respondia com o olhar. 
No meio da minha prosa, senti suas mãos apertando meu braço e não tive dúvidas que aquele gesto significava adeus.
Deus sabe lá quantas vezes apertei a campainha que dava no local de trabalho dos médicos e enfermeiras. Eu desesperada e minha avó indo embora... Uma parada cardiorrespiratória. 
Lembro que saí arrastada por uma enfermeira e já na porta olhei minha avó que continuava olhando pra mim. Essa foi a última vez que a vi lúcida.
Ela faleceu dois dias depois. Teve alguns momentos de lucidez na presença dos meus tios e em um desses momentos pediu que eu lembrasse: -“A única certeza é o amor que fica no coração... É o amor que pulsa”. - E o amor tem cheiro! - Completo.
Minha avó era mesmo sabida!
Tenho saudade dela, mas não é uma saudade triste... Não é saudade derivada de nunca mais... É saudade que acredita no até logo...
Não tenho dúvidas que um dia vou encontrá-la! É só seguir o cheiro dos jasmins e das rosas cobertas pelo orvalho fresco.

Danielle Faria.

Para aqueles que não têm palavras para descrever a intensidade do sentimento que fica quando alguém que amamos diz até logo - ou esse alguém foi tão rápido e inesperadamente que nem até logo disse -, compartilho as palavras da vovó: “A única certeza é o amor que fica no coração... É o amor que pulsa e todo amor tem cheiro”.

Despedidas na estação



Um dia as pessoas que amamos vão.
É como estar em uma estação... Você se apressa para não perder o trem da vida e quando está dentro dele, nota que uma parte sua ficou pra trás acenando um longo e doloroso adeus.
E o trem continua sobre os trilhos, ora acelerado, ora mais devagar, mas ele segue seu curso e não vai voltar às estações...
Não adianta mostrar em quantas partes seu coração foi quebrado, nem explicar o gosto amargo das suas lágrimas... Mesmo que você ameace a saltar do trem... Isso não resolverá seus problemas! A estação passou e porque passou agora ela vive num lugar que se chama passado.

Há noites que você tem a agradável sensação de estar junto de quem se foi. Sente seus cabelos acariciados pelo toque inconfundível do amor e escuta bem baixinho a voz doce em tom conhecido e familiar, mas quando os seus olhos percorrem o quarto, simplesmente não encontram o sorriso que traria leveza para suas noites de insônia. Então, sua cabeça não encontra coerência e você começa a questionar: “Será?” “É possível?”
E antes de concluir que aquela sensação foi só a voz insana da sua alma gritando por misericórdia, imagine que a inteligência humana não compreende tudo o que há entre o céu e a terra, portanto, "talvez"... "Quem sabe?" "Se não for agora será em outro dia"... Reticências.
Isso se chama esperança, fé... Chame do que quiser.

O trem chegue seu curso...
Muitas estações virão e você nunca saberá em qual delas está seu ponto de descida.
A única certeza é o amor que pulsa e este não se esvai, nem se perde... Fica!

Danielle Faria.
A próxima postagem chamará "O cheiro do amor". Quando eu não tinha mais palavras, minha avó me deu essas... Quero dar as mesmas palavras para vocês. Abraço!

segunda-feira, novembro 01, 2010

Se você tivesse me escutado!



Ontem, antes de postar o texto, flagrei meus pensamentos em Mary Scmich, colunista do jornal Tribune, em Chicago. Mary Scmich ficou conhecida por escrever “Filtro Solar”.
O texto "Se você tivesse me escutado!" já estava escrito, mas preciso admitir que o sentimento que tomou conta da referida autora não foi diferente do meu...
Assim como a colunista, eu fazia algumas observações cotidianas e “compreendi que tinha chegado a uma fase perigosa da vida, a fase na qual a pessoa é tomada pelo desejo de distribuir conselhos aos outros”. (p.6).
Você pensa que esse dia nunca vai chegar! Mas numa bela tarde de domingo, começa a perceber que o número de pessoas que te chama de tia é maior do que você esperava.
Começa a perceber também que presenteou a maioria dos seus sobrinhos ou afilhados com livros e pior! Nem notou que eles ficaram chateados, pois esperavam um brinquedo.
Eh... Esse dia chegou!
***
Seja autêntico (a), mas não use a autenticidade como desculpa quando magoar alguém.
Algumas perguntas não buscam respostas verdadeiras, acredite!
Não responda tudo que perguntarem a você e não fique perguntando a todo o momento o que fazer. As escolhas não estão livres dos erros. Arrisque!
Tente não magoar seus semelhantes, você pode abrir uma ferida que jamais se fechará e ser responsável pelas lágrimas de alguém é terrível.
Deite debaixo de uma árvore e agradeça pela sombra que te acolhe... Ou não agradeça... A sombra não vai sair emburrada devido a sua ingratidão mesmo! No entanto, a ingratidão pode afastar as pessoas que realmente se importam com você.

Plante uma árvore!

Não precisa encaminhar emails só porque eles ameaçam você com algum tipo de praga caso quebre a corrente. Esses emails não são diferentes da velha superstição sobre o gato preto ou o espelho quebrado e seus sete anos de azar.
Admita, a tecnologia faz parte da sua vida, mas não abra mão do hábito de folhear um bom livro.
Não precisa acreditar em tudo que lê.
Não tome como verdade tudo que os outros dizem a você... Isso vale para os elogios e para as críticas.
Algumas pessoas realmente querem o seu bem, mesmo que elas errem tentando acertar.
As boas intenções não amenizam as consequências das suas atitudes, mas é importante saber a intenção do outro.
Seu professor tem toda razão quando cobra de você a conjugação verbal. Estude!
Não confunda impunidade com tolerância e/ou capacidade de perdoar.
Cuidado com os produtos em promoção! Você pode comprar uma caixa de leite pela metade do preço e em quatro dias descobrir que a data de validade do leite venceu há dois dias.
Tenha cuidado quando divulgar suas opiniões. Você pode estar influenciando a opinião de outra pessoa.
Não saia por ai comprando conselhos... Nem esses que acabo de escrever! Nem tudo se aplica a todos os contextos e, no final, você é o único responsável por suas escolhas.

Danielle Faria.
***
Mary Scmich, assim como eu, quis dividir um pouco da sua experiência errante. Neste ponto, as coincidências não são meros acasos.

Para os que desejam (re) ver "Filtro Solar", texto e vídeo: http://letras.terra.com.br/pedro-bial/138161/