quarta-feira, dezembro 28, 2011

Dezenove anos sem Daniella Perez

Dany, como você mesma escreveu: “Sabe, acho que como ninguém pode ver o fim do arco-íris, temos mais é que imaginá-lo”. (1986). E eu imagino!

Foto disponível em: http://www.gloriafperez.net/?page_id=1767

Como te penso tanto, e tento enxergar o teu rosto além do arco-íris.
Com as mãos rabisco uma história que você não pôde escrever.
Imagino as músicas que você deveria dançar,
As personagens que ganhariam vida ao som do seu sorriso e do seu caminhar...

Imagino a sua casa cheia de crianças.
Algumas te chamariam de “mamãe”. Outras de “tia”...
E vejo essas mesmas crianças crescendo... Escolhendo o curso superior! Posso até vê-la com o rosto preocupado: _ “Será essa a escolha melhor?”.

Imagino um bolo cheio de velinhas com todos os “parabéns” que precisaram se calar...
Todos os braços que ficaram sem o teu abraço...
Todas as palavras vazias, enlaçando narrativas que ficaram à margem de você.

E a cada movimento deste além do arco-íris, rabisco páginas de uma vida que imaginei...
De risos, alegrias, decepções, desafios, conquistas...
Uma vida em que o verbo “VIVER” pôde ser conjugado até o “futuro do presente”...

E nesta altura, as marcas do tempo abraçariam você, assim, como deveria ser...

Danielle Faria.

DANY, ao ver suas fotos, seus bilhetes, seus guardados... Tudo que ficou cristalizado nos seus vinte e dois anos de existência, penso: _"É possível ouvir risos de alegria de momentos ausentes. Basta imaginar!"

VÍDEO: FERNANDA ROCHA.




"Escolhi a música do melhor poeta que já existiu e as imagens mais bonitas da Dany. Minha lembrança é pra ela e meu carinho é pra Glória Perez. (Fernanda Rocha)".
Disponível em: http://youtu.be/Hn6ApC0Z_TQ

Belíssimo, Fernanda! Obrigada!

Em tempo: A música "Valsa para uma menininha" e as fotos da Daniella Perez foram escolhas de quem produziu o vídeo: Fernanda Rocha.
 

terça-feira, dezembro 06, 2011

Instantes



Desenho uma estrada sem fim e por ela caminho.
Ouço os ecos dos meus passos que parecem melodias de uma nota só.
Não vejo nada... É um instante necrosado.


Que destino é este a que vim?
E ao indagar pingos de luzes caem de um céu que pensava estar ausente...
A estrada ilumina-se de sonhos.


Danielle Faria.

sábado, novembro 26, 2011

Noite - Cecília Meireles




Úmido gosto de terra,
cheiro de pedra lavada,
— tempo inseguro do tempo! —
sombra do flanco da serra,
nua e fria, sem mais nada.

Brilho de areias pisadas,
sabor de folhas mordidas,
— lábio da voz sem ventura! —
suspiro das madrugadas
sem coisas acontecidas.

A noite abria a frescura
dos campos todos molhados,
— sozinha, com o seu perfume! —
preparando a flor mais pura
com ares de todos os lados.

Bem que a vida estava quieta.
Mas passava o pensamento...
— de onde vinha aquela música?
E era uma nuvem repleta,
entre as estrelas e o vento.

Cecília Meireles, obra "Viagem" (1938)

terça-feira, novembro 15, 2011

Entre o entremente



Tenho uma alma aventureira e um coração imprudente
À beira do vento lanço meu amor, amor vermelho

Tenho uma liberdade incontida dentro de um corpo disciplinado
É uma intensidade sutil que me faz debruçar na encosta para sentir a força adversa do vendaval que impele meu corpo e fixa meus pés na planície segura.

Tenho um olhar disperso que oculta uma sagacidade que serpenteia as entrelinhas invisíveis de paisagens vivazes e mórbidas.
As entrelinhas invisíveis cravam em agulhas metafóricas e costuram as paisagens silentes.
De pesponto em pesponto os olhares e os ouvidos que nada ouvem apreendem o silêncio que se tornou dito.
A linha, agora, contínua extasia-se de sentidos.

E tudo faz sentido... Tudo que há entre o coração, a alma e as entrelinhas.

Sempre há o entre!
Entrementes...

Danielle Faria.

segunda-feira, novembro 07, 2011

Rosa nua



A rosa despiu-se das pétalas.
Ficou nua...
Uma nudez que guarnecia a candura e respirava brisas puras.
Suas pétalas secas adormeceram no chão
   nem as águas e nem as fráguas poderiam refazer o que já foi desfeito.

Que motivo teria a rosa para despetalar-se?
Talvez, essa rosa semimorta viva em um canteiro desmontador
Sim...“DesmontaDor”!
E Ela
                         desmonta
                                             a
                                                         dor...

Danielle Faria.












quinta-feira, outubro 27, 2011

De: Thais. Para: Nicole.






Quando a senti, o amor caiu sobre mim
E a minha voz muda... E a minha voz mesmo silenciosa, agora, pronuncia versos de cristais e prepara canções feitas de arco-íris.
Desenho o seu rosto e sonho os seus sonhos ao contemplar o firmamento

Já ouço o som do seu sorriso...
Não me culpe por imaginá-la!
Sim... Serei culpada por amar.

Minha noite tem mais luzes
No meu dia há mais calor
O vento que encontra meu rosto já não é mais o mesmo
E a imagino comigo em passeios pela eternidade

Tudo mudou!
Um coração são dois...
Conjugo e vivencio o verbo amar
Enquanto espero você chegar.

Danielle Faria.

Muitos vão te amar, Nicole (Nick)!

Thais, minha eterna professora, mestra e amiga, o poema é uma forma de estar próxima de você para compartilhar este momento de felicidade.
Longe fisicamente, mas sempre perto para o que precisar.
Parabéns! Amo-te!

domingo, outubro 23, 2011

Agenda de 1997...

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Cena do filme "Alice no País das Maravilhas", dirigido por Tim Burton e baseado no clássico Alice no País das Maravilhas, escrito por Lewis Carroll.

Expresso uma rebeldia incrivelmente devastadora nas minhas agendas
Rasgo as páginas e jogo fora alguns dias
Reescrevo as semanas
Risco rimas e começo a odiá-las sem causa alguma
Invento palavras e esqueço os seus significados
Neologismos e vendavais Engraçado... Essas duas palavras me fizeram recordar das composições dos Engenheiros do Hawaii... Lembram? É como criar “Várias Variáveis” para encontrar um “Alívio Imediato”.

Palavras aleatórias para organizar uma vida confusa e uma idade com poucas direções... Talvez, isso dê certo algum dia... Quem sabe?
Sinto tanto... De tantas formas, no entanto, todos dizem que é igual
Período chatice esse... A tal adolescência!

Pareço minha caixa! Cheia de bonecas dentro de sacolas plásticas... Tirei todas da estante, mas não consigo jogá-las no lixo.

Danielle Faria.

NOTA: Palavras encontradas na minha agenda de 1997. Nesta época, tinha treze ou quatorze anos.
Não recordo o contexto ou o quê me motivou a escrever.
Lembro que uma das minhas grandes questões na adolescência era o fato de não ser mais criança e não ser uma adulta... Quis deixar o texto na íntegra.
Período de muitos questionamentos e a escrita, sem dúvidas, era minha grande aliada.

segunda-feira, setembro 12, 2011

Tempestade tem cheiro de abraço de avós



Sempre achei que meus avós eram como mágicos que faziam brotar das prolíficas sementes do medo, ingentes atos de coragem para que eu pudesse olhar e perceber que as situações não são tão terríveis como, às vezes, pensava que era.
Minha avó dizia: - “Sei que você se assusta com essa chuva e com o barulho que as pedras fazem quando batem contra o telhado, mas fique calma porque, na verdade, essas pedras de gelo são rosas que Deus joga para todos do céu. Por isso, essa chuva se chama de rosas e não de pedras. As coisas nem sempre são o que parecem!”
Como eu acreditava nas verdades da vovó!
Neste mesmo dia, me senti culpada por chupar às escondidas as "rosas" de Deus e me perguntava o porquê de as pedrinhas causarem dor quando caíam sobre meu corpo. Afinal, as pedras não eram rosas? E rosas são macias... Bom, as rosas do céu talvez fossem diferentes das rosas da Terra. Pensava.
_“As coisas nem sempre são o que parecem!"
Como minha avó me fez pensar!
Certo dia, observei por algum tempo uma pedra de gelo derreter na esperança de enxergar uma rosa. Princípio da reversibilidade.
Em outras situações, ouvia broncas por achar que um “não” da minha mãe pudesse ser um “sim”. Princípio da malandragem.
A verdade é que nunca sabia aplicar as palavras sábias da vovó, mas foi dessa forma, errando, que aprendi a acertar mais.
 
Naquela tarde a chuva cessou e as "rosas" cobriram toda calçada.
As ruas ficaram como em dias de procissão de Corpus Christ... Ruas prontas para receber e cobrir de glória a visita do Menino Jesus.
Parece-me que naquele dia as pedras tinham cheiro de rosas e a tempestade se foi com cheiro de abraço de avós.

Danielle Faria.

Vovó Conceição, amo você infinitamente. Deus lhe deu asas e decidiu levá-la. levou minha avó para me dar um anjo. Tenho saudade.

 

sexta-feira, julho 29, 2011

A tristeza Permitida, por Martha Medeiros


 "Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi difícil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar uma roupa, ir pro computador, sair pra compras e reuniões – se eu disser que foi assim, o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem pra sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?

Você vai dizer “te anima” e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer pra eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.

Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.  

A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão. Estar triste não é estar deprimido.  

Depressão é coisa muito séria, contínua e complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente – as razões têm essa mania de serem discretas.   

“Eu não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não me importa que mil raios partam/ qualquer sentido vago da razão/ eu ando tão down...” Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara. “Não quero te ver triste assim”, sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado demais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo da euforia.   

Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem pra isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força e sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor – até que venha a próxima, normais que somos". MARTHA MEDEIROS.


Raramente, publico aqui escritos que não são de minha autoria. Não sei se há outras razões, além de este ser "meu espaço Caleidoscópio", conforme consta na descrição do blog. Não sei... 
Estou certa de que as palavras de outros escritores, reconhecidos ou não, traduzem verdades que, às vezes, ainda nem signifiquei.

sexta-feira, julho 22, 2011

Hoje!


Seus olhos abriram-se para o dia de hoje.
Desejou ficar na cama mais um pouco, mas o tempo não permitiria tal regalo, afinal, tinha muitas tarefas para concluir.
Sentiu o cheiro do café torrado e instintivamente seus sentidos foram aguçados. Percebeu que seu estômago pedia uma refeição: pão de queijo, talvez...
Ainda sonolenta pensava nos seus projetos: nas fotos para o álbum, no dia do desfile que se aproximava na mesma velocidade de um piscar. Conseguia visualizar a maquiagem que pretendia usar... Olhou para suas mãos que estavam suadas... Era a adrenalina que sempre acompanhava o sonho da passarela. –“Que mal há em sonhar?” – Falou para si mesma.
Voltou ao seu quarto, abriu a porta do guarda-roupa e pegou algumas calças jeans. – “Ainda dá tempo de experimentar!” – Pensou.
Olhos atentos no espelho e na calça que modelava seu corpo. - Ontem o seu corpo era o de uma garotinha. Como cresceu!
Olhar no espelho, mas seus pensamentos também ocupavam outro tempo e lugar: - “Hoje poderia ser diferente... Quem sabe o celular toca trazendo boas-vindas? Quem sabe o amor sussurra em meus ouvidos ou bate na minha porta trazendo um sapato de cristal?” – Não conteve a risada... – “Sapato de Cristal? Ok, Cinderela!" – Repreendeu seus pensamentos e depois se justificou: - “Quem não quer um final feliz?”
Ouviu a buzina do carro e a realidade suspendeu seu momento de divagações. 
Juntou a roupa e colocou na mochila. Esqueceu alguns acessórios, mas não ficou preocupada, pois iria retornar a tempo de guardá-los.
Saiu de casa, deixando um rastro de perfume...

Seus olhos abriram-se para o dia de hoje e ela não sabia que aquele era seu último despertar... Isso mesmo! A vida parou de assoprar, a finitude a abraçou... O sol nasceu, no entanto, não se pôs! - Vai além da minha compreensão!

Não sei bem o quê escrever... 
Para ela não haverá amanhã...
Sei que enquanto existiu vida, ela sonhou... 
E viveu...
No momento, isso é o bastante.


Danielle Faria.

quinta-feira, junho 16, 2011

Porvir...


Não tenho palavras inteiras,
Nem frases bem articuladas.
As sílabas se desencontram...
As rimas se perdem...
Os versos desvanecem e a poesia não encontra lugar.
 

O que não é dito significa, simplesmente, não dito...
É um silêncio que grita palavras mudas... Grita coisa alguma!
Não há sons inefáveis.
A voz quis calar e, por isso, calou.
Hoje está assim.
Amanhã? Porvir...


Danielle Faria.

segunda-feira, maio 23, 2011

Manhã de segunda-feira

Relógio desperta... Meu corpo acorda vagarosamente. Mentalmente, tento organizar minha agenda do dia dando início a minha manhã de segunda-feira. 
Ao abrir os olhos, percebo que os raios do sol invadem o meu quarto. Minha atenção volta-se para o reflexo rútilo do sol e meus pensamentos divagam: 


- "Nossa! Que lindo o reflexo do sol no espelho... Pena que meus olhos doem devido a claridade. Ih! Por falar em olhos, cadê meu óculos de sol? Caramba! Será que o perdi? Se sim, será o segundo só nesse mês"... 
_"Ai ai!" - dou um longo e delicioso suspiro. E continuo a divagar:
_"Ah! Não posso esquecer meu horário com o 'oftalmo', porque estou enxergando mal. Melhor nem ficar pensando na minha miopia. Julgando pela minha visão turva, acabarei usando um 'fundo de garrafa'..." - Nesse momento, estou escovando os dentes e esboço um sorriso decorado pela espuma branca do creme dental. Minha mãe me flagra rindo sozinha e pergunta o porquê do sorriso. Respondo: _ “Por nada... Lembrei do desenho da Garrafinha!”. Minha mãe balança a cabeça e diz: - “Minha filha, você não cresce nunca! Lembrando de desenho animado?” Nós duas damos risadas, mas, em seguida, fico em silêncio. Explicar o quê me fez recordar da personagem “Garrafinha”  iria demorar.
Enquanto caminho rumo a cozinha para deliciar o café da manhã fico pensando em óculos e no sol: raios ultravioletas, protetor solar, praia, camada de ozônio... Pensamentos que parecem desagregados.
Repentinamente, vejo que minha mãe fala comigo, mas, até aquele momento, sua voz estava tão distante. Perturbada pelo meu olhar disperso, minha mãe diz: - “Oi! Estou falando com você! Parece que não acordou!” - Peço desculpas e tento prestar atenção na fala da minha mãe. 
Mesmo tentando focar a atenção em sua fala, meus pensamentos escapam e lá estou repassando minha agenda do dia. Entre horários que agendei, projetos que preciso terminar e leituras que tenho que concluir, ouço uma voz que questiona: - “Pode ser assim?” – Era a voz da minha mãe. - Ixi! Que vergonha de perguntar: “pode ser assim o quê?” – Reflito. Então, respondo quase que automaticamente: - “Claro! Pode!”.
Depois do café da manhã, ligo o computador. Respondo e-mail, escrevo tweets, inicio meu artigo, assisto vídeos no You Tube... Nem me atreverei a descrever meus pensamentos. Daria um livro!
Sou interrompida pelo som do celular... Minha mãe! Ela diz: - “Dani, já fiz o depósito e, agora, estou na loja. Tem certeza que é essa loja mesmo? A atendente diz que você não comprou a calça aqui”. Em pensamento grito: “Que depósito? Que calça?” Nem precisei de um segundo para lembrar que minha resposta no café da manhã: -“Claro! Pode!” – foi para confirmar o depósito e a troca da calça jeans que não precisava trocar. Que situação!
Foram menos de trinta minutos, – do momento que acordei até finalizar o café da manhã – mas vejam confusão que consegui arquitetar! E essa não foi só uma manhã atrapalhada... Não foi uma manhã que se encaixa na categoria “exceções”.
O dia será acelerado!
Cabeça nas nuvens... Hora de apoiar os pés no chão e desfazer minhas confusões.

Danielle Faria.

quinta-feira, maio 19, 2011

Sentindo a vida...


Gosto de sentir o cheiro da grama, da terra molhada e do orvalho fresco que se aquece com os primeiros raios do sol.
Escutar o vento garboso que agita as fileiras das árvores de eucalipto e apreciar os movimentos das folhas assobiantes.
Sentir o vento em meu rosto enquanto ando a cavalo... Parece que a liberdade tem tato e me toca!
Gosto de mergulhar meus pés na água do rio raso e ligeiro. A areia brinca com meus dedos e foge em disparada seguindo o seu curso.

Sinto uma completude difícil de descrever...Gosto de sentir a vida pulsar. E como isso me faz bem!

Danielle Faria.

segunda-feira, maio 16, 2011

O meu canto tem vários cantos



O meu canto é rouco...
Meio calado...
Meio tresloucado...
Com uma definição imprecisa, afinal, quem precisa de tantos por quês?
O meu canto é a voz que procura, perde e encontra as estradas imaginárias com  tijolos amarelos.
 
O meu canto é como tantos outros cantos...
É o encontro de duas paredes frias que aconchega minha mobília
O meu canto é colorido, aquecido pela luz do abajur que repousa sobre a escrivaninha.
O meu canto é um criativo incompleto, cheio de folhas com versos inacabados de poemas que um dia pensei em escrever.

O meu canto rouco se encontrou com o canto como todos os outros.
O poema sem rima, quase necrosado, que jazia no canto empoeirado, transmutou-se, quem diria?!
O canto, que é o encontro de duas paredes frias e estáticas, transformou-se no canto rouco que balbuciava uma melodia qualquer.
Acho que cantava a vida...


Danielle Faria. 


Postagem perecível.

domingo, maio 08, 2011

Cuidado...

_ “Existem vários tipos de mães!” - Uma criança de sete anos me contava.
No primeiro momento, pensei que a criança descrevia as características físicas das mães: altas, baixas... Mães de cabelos escuros ou claros, longos ou curtos. E continuei a escutar... _ “Há mães que também são pais e há pais que são mães! Há crianças que moram com os avós ou tios... Se eles cuidam, por que não podem ser mães? Há vários tipos de mães porque não é justo alguém ficar sem nenhuma”.

Ela olhou para o alto como se quisesse pescar algo em seus pensamentos.
Observando a criança quase enxergava sua tentativa de amarrar as ideias para depois verbalizá-las. Passado alguns segundos, ela deu continuidade ao seu raciocínio: _ “É como meu cachorrinho, sabe? Acho que ele perdeu a mãe ou nunca a conheceu, mas quando chegou à minha casa, o Fred, que é o meu outro cachorro adulto, o ensinou a fazer um monte de coisas. O Fred parece ser o pai do Bob (o filhote de cachorro), mas, às vezes, penso até que ele poderia ser mãe também... Ah! Acho que ele é os dois!”
A criança sorriu, gargalhou e com um gesto pediu que eu me aproximasse mais e cochichou _ “Os meus cachorros parecem gente, né?”


Danielle Faria.

domingo, abril 24, 2011

Quem nunca idealizou o amor?



Era véspera de feriado e meu celular tocava desesperadamente. Olhei para o aparelho e o mesmo indicava número confidencial - se as pessoas soubessem que não atendo chamadas com o número oculto, elas não me ligariam, mas lembrei de uma amiga que sempre me liga com o identificador de chamadas desativado - Depois de três ligações, resolvi atender o celular e fiz bem, pois era a amiga que mencionei.
Com a voz chorosa me disse poucas palavras: - “Vou passar na sua casa. Preciso conversar... Brigamos”. E desligou. Logo pensei: - “Brigaram!” Quando você conhece bem uma pessoa as palavras são dispensáveis. O tom de voz e o silêncio dizem de um contexto que ainda não foi verbalizado. Minha amiga não precisava me dizer muito e ela sabia, afinal, nos conhecemos desde a adolescência.
Alguns minutos se passaram e lá estava ela. Ela entrou. Tomamos café e conversamos. Relatava-me de como era difícil a vida a dois... Dos impasses, da incompreensão, das palavras que não precisavam ser ditas... Enfim, contava-me de como era difícil estabelecer um diálogo quando tudo parecia só desencontro.
Escutei, falei pouquíssimo e a acolhi. Após o momento tenso - e sempre é, pois a dor que o amor provoca parece sangrar e o pior é que você não encontra a ferida para estancar a hemorragia - olhei para minha amiga e disse: - “Tenho pensado bastante sobre as dificuldades de encontrar um amor”... Fui interrompida por gargalhadas. Ela me conhecia bem e sabia que havia tecido alguma teoria mirabolante.
- Chegou a alguma conclusão? Perguntou minha amiga com uma expressão facial incrédula e crítica. Respondi que sim e continuei meu raciocínio: - “Lembra da época que tínhamos quatorze ou quinze anos e fazíamos uma lista com os predicados de um amor ideal? Minha lista continha jovem atencioso, romântico, charmoso...” Ela interrompeu dizendo: - “A minha lista tinha moreno, olhos claros, barriga de tanquinho...” - E mais risadas...
Entre beleza e personalidade, a lista de predicados só crescia. Pronto! Você entregava para o Anjo-Cupido um tipo de GPS que, em tese, o conduziria ao seu amor perfeito! Bastava procurar. Tarefa aparentemente simples, mas algo estava errado... Se, teoricamente, encontar o amor ideal era fácil, qual o motivo de tantos desencontros?
Dei um longo suspiro e com dedo apontado para o alto disse: - “LER”! – Às vezes penso, - “Danielle guarde suas ideias pra você”- mas rir com os amigos é impagável e, no final,  ganhar o sobrenome "Hellmann's" sempre vale a pena! E continuei a discursar: - “Acompanhe meu raciocínio: Quem aguentaria essa vida de índio? Só arco e flecha desde os primórdios! O resultado é Lesão por Esforço Repetitivo (LER), o que me leva a pensar em outra hipótese: falta de mão-de-obra qualificada entre os Anjos-Cupidos. Alguns cupidos afastados pelo INSS e cupidos inexperientes no serviço. Imagine a cena? A confusão?" - Nessa altura da conversa, já estava encenando o cupido, minha amiga se desmanchando em risadas e continuei: – "O cupido está mirando no seu amor ideal e acerta uma pessoa do outro lado da calçada. Cupido sem mira... Espalhando flechas imprecisas... Pode-se dizer que distribuiu flechas aleatoriamente. Esse é o motivo da confusão!" – Boa hipótese! Grita minha amiga como se estivesse dizendo “eureca!”
Ela balança a cabeça e diz concordar comigo, mas levanta outra hipótese: - “Ou, talvez, sejamos nós a bagunçar o trabalho do cupido. Afinal, sua lista muda de quanto em quanto tempo?”
Respondi dando risadas: – “A minha lista tem a estabilidade de uma montanha russa!”. Meu cupido deve ser um ingente! Refleti.
Apesar do contexto, foi uma tarde inesquecível! 
Minhas amizades são preciosas! Só na companhia dos amigos fico a vontade para partilhar ideias tão insanas. Também, que coerência há na paixão? Quem nunca idealizou um amor? E o cupido fica com a culpa... Pura injustiça!
Entre o real e o imaginário... Entre o coração partido e a ideia do cupido desastrado, passamos a tarde recordando dos tempos em que as feridas pareciam grandes demais. Já chorei por amor, pensando que aquele seria meu último pôr do sol. Intensa! Que último o quê? O sol nascia, o dia recomeçava e, sem perceber, a ferida cicatrizava. O que era imensurável ficava pequeno e, depois de um tempo, até virava motivo de risadas.
Colocar a culpa no cupido não diminuiu as lágrimas da minha amiga, como não diminuiriam as minhas se estivesse no lugar dela, mas lembrar das situações que já vivenciamos nos dá forças, porque sabemos que após o crepúsculo há a alvorada e com o nascer do sol, a esperança é concebida. Nada é permanente!

Danielle Faria.

terça-feira, abril 19, 2011

Que Complicação!


O mundo está ficando muito complicado! Talvez, não esteja complicado para todos. Aliás, tenho certeza que não há complicações para a maioria, mas eu faço parte da minoria.
Recentemente, meu aparelho de celular resolveu aposentar. Uma “vida curta” de trabalho... Menos de dois anos de labor! Logo imaginei: - "Daqui a pouco esses aparelhos vão solicitar o “BPC” – Benefício de Prestação Continuada. Parece piada!"
Fui até a loja comprar um novo celular. Uma moça gentil me atendeu. Mostrou-me vários modelos com tantas funções e nomes estranhos que nem consigo reproduzir a fala da atendente. Era um dialeto que eu desconhecia. Na tentativa de estabelecer uma comunicação, simplifiquei: - “Preciso de um celular que mande mensagem e que faça ligações”. Enquanto resumia as minhas necessidades de consumidora imaginava – “Não preciso de todas essas parafernálias que os aparelhos de celulares oferecem! Ficaria perdida... Até hoje não sei a função do bluetooth!”
Tenho que admitir. Estou bem abaixo na hierarquia alimentar da selva tecnológica... Estou sendo devorada!
Outro dia estava voltando de São Paulo e parei e em um restaurante. 
Usar o banheiro tornou-se complicado, começando pela porta de entrada. Quando você entra no banheiro, o habitual é você mesma abrir a porta. Coloquei a mão na fechadura e quase cai. A porta abriu automaticamente. Pensei: - “Que porta gentil! Alguns homens deveriam ter aulas de boas maneiras com essa porta...”. Após a entrada desastrosa, precisei usar a torneira para lavar as mãos. Que saudade da época em que você precisava girar na lateral ou no cume da torneira e a água saía! Contudo, nesse banheiro era diferente. As torneiras tinham um sensor de temperatura e movimento - até aqui tudo bem, já tinha sido apresentada a essas torneiras -  Mas imagine minha surpresa quando coloquei minhas mãos embaixo de uma delas e a água era azul. Mudei de torneira e água era vermelha. - "Uau! Aguá colorida! O que faltam inventar?" - Refletia com um ar de perplexidade. A água azul indicava temperatura de, aproximadamente, 25ºC e a água vermelha indicava temperatura superior a 30ºC.  Com todas essas novidades, meu apetite e meu tempo acompanharam as águas coloridas que desapareciam pelo encanamento.
Sinceramente, não consigo acompanhar tantas mudanças tecnológicas e muitas delas recebem o nome de “inteligentes”. Partindo dessa lógica de inteligência, só posso ser o oposto! 
Querem saber? Isso só complica! A ideia não seria simplificar? Mas como mencionei, imagino que sou a minoria nesse mundo tecnológico que me oferece mais que necessito.

Danielle Faria. 

Em tempo: não sou contra os avanços tecnólogicos... Só não consigo acompanhá-los, mas gosto da era digital. Caso contrário, nem teria esse blog e meios para divulgá-lo. 
As novidades não param de crescer e eu, sinceramente, tenho dificuldade de acompanhá-las. :-))
Abraços!

quinta-feira, abril 14, 2011

O Tamanho do Sonho


Era véspera de Natal do ano de 1989 e como de costume escrevia uma carta para o Papai Noel.
Meu irmão, meus primos e eu sentávamos em volta da extensa mesa da cozinha da vovó e, juntos, endereçávamos nossos pedidos ao "Bom Velhinho". Lacrávamos e entregávamos as cartas aos nossos pais.
Naquela época não era comum uma criança que acabara de completar cinco anos saber ler e escrever, mas eu aprendi. Era muito inquieta e curiosa para esperar a idade “correta” para ser alfabetizada – sete anos, naquele tempo.
Estava feliz, agitada, envaidecida, emocionada... Era um contentamento difícil de descrever, pois aquela era a PRIMEIRA CARTA... Elaborada com as MINHAS palavras.
Não era um texto longo, mas escrevi o suficiente para que o Papai Noel entendesse o meu pedido.
Na semana do natal, minha mãe acolheu-me no aconchego do seu colo e explicou que o Papai Noel não poderia me dar o presente que escolhi. Ela dizia que ele havia ficado imensamente triste por não me atender. Cuidadosamente, escolhia as palavras para justificar o porquê de o Papai Noel negar o pedido descrito em minha carta. Recordo que mamãe falava bem baixinho como se estivesse contando-me um segredo: - “É que na fábrica dele só se constroem brinquedos e pelo que me disse você quer uma de verdade. Ou a de brinquedo serve?” Balancei a cabeça indicando que não... A de brinquedo não serviria.
Lembro que fiquei chateada com o Papai Noel, afinal, tinha me comportado bem durante o ano.
Na mesma noite em que mamãe e eu conversamos, fui até quintal, deitei no banco de madeira para admirar o céu e quis desabafar diretamente com o “Bom Velhinho”: 
_ “Sei o porquê de não ganhar minhas asas" – pedi asas como as dos anjos _"O céu é muito grande e eu poderia me perder". - Era uma explicação sensata, mas quem disse que os desejos que o coração cultiva seguem a razão?
E continuei a discursar: _ "Queria tanto tocar as estrelas! Queria conhecer o arco-íris e, quem sabe, visitar Deus! Talvez, São Pedro não se importaria de abrir as portas do paraíso e eu poderia ver como minhas orações chegam até Jesus... Será que são levadas por anjos? Poderia perguntar a Jesus sobre a Trindade Santa... Afinal, porque o Espírito Santo é desenhado como se fosse uma pomba? Poderia também tocar as estrelas e visitar o Pequeno Príncipe." 
Haviam muitas perguntas. O céu sempre me fascinou... E, pelo que me lembro, fiquei um tempo considerável em silêncio pensando na minha conversa com o “Bom Velhinho”. Repassava cada palavra e imaginava como seria se tivesse asas. Até tentei argumentar: - “Reconsidere! Vou ser cuidadosa e voarei só em lugares próximos a minha casa!” - Obviamente tentei "barganhar"!
De manhã meus primos adolescentes, já sabiam da “menina que queria ter asas” e, é claro, fui a piada do dia.
Enquanto corria atrás dos meus primos munida de goiabas bem maduras e/ou podres que recolhi no chão do quintal, gritava os meus avós. Eu era veloz e esperta, mas, infelizmente, tinha uma mira desastrosa.
Como gostaria que meus primos ficassem impregnados com o cheiro das goiabas! Acertá-los não garantiria meu presente natalino, mas a piada teria o efeito inverso e seria eu a dar as risadas, mesmo sem as asas de anjo. Também, havia me comportado consideravelmente bem durante todo o ano e nada de asas? Uma goiaba a mais, outra a menos...
Sem mais goiabas, sem mais fôlego... Só ouvia as gargalhadas dos meus primos que ficavam cada vez mais insuportáveis.
Sentada no chão com os braços apoiados no joelho e com a cabeça debruçada sobre meus braços, chorava. Minhas lágrimas eram de desapontamento, raiva, vergonha, principalmente, vergonha!
Naquele instante, tive a consciência que nenhuma criança que conheci, havia feito tal pedido para o Papai Noel... - "Asas? Asas como as dos anjos? Impossível!" Pensava. E mais lágrimas.
Ouvi os passos da minha avó se aproximando – era inconfundível o ritmo do seu caminhar! - Ela olhou irritada para meus primos que se calaram. Segurou a minha mão e pediu para que eu ficasse de pé.
Com o olhar desapontado e com a voz engasgada perguntei a vovó: _“Sabia que não ganharei asas no dia de Natal? Papai Noel não fabrica esse tipo de presente". - Ela respondeu que sim... Que sabia. Em seguida, questionou: _“Qual é o tamanho do seu sonho, 'Pequena'?” Estiquei bem os braços na direção horizontal e disse que era maior que o próprio céu.
Ela sorriu e cochichou no meu ouvido: _“Se seus sonhos continuarem crescendo, suas asas também crescerão. Quando o sonho é grande e acreditamos que ele pode ser real, alcançamos o céu, se assim desejarmos.”- E como eu desejava!
Na noite de Natal tive a estranha sensação de ouvir o barulho de asas... Como o som de um pássaro levantando voo.

Talvez, aquele som fosse só a voz desinquieta do meu desejo...

Talvez, fosse a magia do Natal, sinalizando estar ali...
Ou, talvez, fosse um sonho bom. 

Independente "do talvez" e do seu conteúdo de possibilidades, pensei: _“Um dia terei minhas asas e voarei! É só cuidar dos meus sonhos...”

Semeio sonhos e colho "asas"...

Danielle Faria.