segunda-feira, setembro 12, 2011

Tempestade tem cheiro de abraço de avós



Sempre achei que meus avós eram como mágicos que faziam brotar das prolíficas sementes do medo, ingentes atos de coragem para que eu pudesse olhar e perceber que as situações não são tão terríveis como, às vezes, pensava que era.
Minha avó dizia: - “Sei que você se assusta com essa chuva e com o barulho que as pedras fazem quando batem contra o telhado, mas fique calma porque, na verdade, essas pedras de gelo são rosas que Deus joga para todos do céu. Por isso, essa chuva se chama de rosas e não de pedras. As coisas nem sempre são o que parecem!”
Como eu acreditava nas verdades da vovó!
Neste mesmo dia, me senti culpada por chupar às escondidas as "rosas" de Deus e me perguntava o porquê de as pedrinhas causarem dor quando caíam sobre meu corpo. Afinal, as pedras não eram rosas? E rosas são macias... Bom, as rosas do céu talvez fossem diferentes das rosas da Terra. Pensava.
_“As coisas nem sempre são o que parecem!"
Como minha avó me fez pensar!
Certo dia, observei por algum tempo uma pedra de gelo derreter na esperança de enxergar uma rosa. Princípio da reversibilidade.
Em outras situações, ouvia broncas por achar que um “não” da minha mãe pudesse ser um “sim”. Princípio da malandragem.
A verdade é que nunca sabia aplicar as palavras sábias da vovó, mas foi dessa forma, errando, que aprendi a acertar mais.
 
Naquela tarde a chuva cessou e as "rosas" cobriram toda calçada.
As ruas ficaram como em dias de procissão de Corpus Christ... Ruas prontas para receber e cobrir de glória a visita do Menino Jesus.
Parece-me que naquele dia as pedras tinham cheiro de rosas e a tempestade se foi com cheiro de abraço de avós.

Danielle Faria.

Vovó Conceição, amo você infinitamente. Deus lhe deu asas e decidiu levá-la. levou minha avó para me dar um anjo. Tenho saudade.