segunda-feira, janeiro 31, 2011

Entre Erros e Acertos


Não consigo imaginar minha vida sem meus erros!

A primeira vez que fiz macarronada, cozinhei o macarrão sem colocar óleo. Obviamente, o resultado foi um desastre, mas o sorriso da minha avó ao assistir o cubo de massa em que o macarrão se transformou caindo como uma pedra no escorredor foi impagável. Não trocaria aquele sorriso nem pela melhor macarronada do mundo!

Quando o professor do ensino médio nos ensinava a elaborar um texto dissertativo, se irritou com minha insistente pergunta sobre “por que não poesias?” Como não obtive resposta, escrevi um texto dissertativo sobre “por que não poesias?”. Ganhei uma advertência verbal junto com um passaporte para a sala da psicopedagoga da escola, mas não trocaria essa experiência nem por um “EXCELENTE” na minha dissertação. Afinal, tive minha resposta!

Quando me apaixonei pela primeira vez, sentia-me uma idiota por várias razões, dentre elas: minha paixão platônica era uma pessoa onze anos mais velha.
Passado alguns meses suspirando, resolvi chegar ao treino de vôlei mais cedo e contar para minha paixão que ele era minha paixão. Parecia tão simples!
Depois da decisão tomada, quis me esquivar desse momento de qualquer maneira, mas já sentada ao lado dele sair correndo só iria me deixar parecendo uma idiota, então eu disse: “Gosto de você!” – de olhos fechados para não ver que expressão tinha o rosto dele quando me declarei. Recebi um acolhedor abraço e um beijo nas mãos.  Não era bem o que eu esperava ganhar, mas diante do contexto, essa foi uma das decisões mais difíceis que tomei na minha adolescência e levá-la até o fim foi como ser premiada com a medalha de atleta-destaque no campeonato de vôlei.

Acontece que sou o resultado das minhas experiências e reafirmo: não consigo imaginar minha vida sem meus erros... Minhas tentativas!
Há algum tempo tenho notado nas pessoas um medo desproporcional no fato de tomar uma decisão errada. O medo é um inibidor e muitas decisões são acompanhadas pelo medo de errar...
Ora, tenho medo de levantar a mão na aula de filosofia e fazer uma colocação incoerente - já fiz isso várias vezes, ou melhor, MUITAS vezes!
Tenho receio de questionar meu patrão, meu professor, pois posso ser rotulada como “causadora da desordem” e as consequências podem ser as piores. Ou o oposto! Posso receber um agradecimento, pois minha pergunta desfez algum equívoco. Como prever? Só saberei da consequência depois da minha ação. Assertividade passa pela experiência.

 
Não tenho dúvidas que o incerto causa receio, mas nada me amedronta mais do que desistir de tentar.
Aprende-se que errar é vergonhoso. Que o erro acompanha os fracos e fracassados.
Essa ideia é como câncer em metástase e, quando você percebe, aquela pequena e insignificante ideia está alojada em lugares que você nem imagina, comandando suas decisões... Uma invasora silenciosa e devastadora!


Há pessoas que preferem permanecer sob os olhos atentos de uma censura quase invisível.
Sob esses olhares, o medo de errar e a inércia são consideradas armas contra o fracasso, mas em uma bela caminhada matinal o seu caminho cruza com aquela sua paixão adolescente de mãos dadas com a garota da sua antiga turma de inglês. Eles parecem felizes e embora os reconheça eles não reconheceram você. Talvez, seja porque era sempre quieta e preferia ficar em silêncio, assim evitava cometer algum erro.
Lembrou-se que várias páginas do seu diário tinham o nome daquele garoto sempre dentro de algum coração ou ao lado de figurinhas de balas "Ice Kisses" que previam encontros que nunca existiram.
Lembrou-se também que mesmo depois de abandonar seus diários e as figurinhas de balas e chicletes, deixou registrado - somente em seus pensamentos - a chance de devolver um sorriso para seu ex-colega de trabalho e agora você nem sabe onde ele está. Talvez, fora do país ou de mãos dadas com outra conhecida ou estranha - pouco importa - nesse mesmo parque.

"Que caminhada matinal infeliz! Só serviu para disparar pensamentos que há muito tempo resolvi guardar!" - Protesta silenciosamente.

A quantidade de calorias que você queria perder com a caminhada já nem importa. Na verdade, você odeia caminhar, queria fazer hidroginástica, mas como esta acima do peso, pensou que seria constrangedor colocar roupas de banho: - “Vão olhar todos pra mim! Melhor não... Vou caminhar!” – Percebe como a ideia, supostamente, insignificante - “errar é vergonhoso” - é sua companheira fiel?
E os questionamentos parecem não ter fim! Você, definitivamente, veste uma roupa que é sufocante, embora socialmente aceitável.

Embaixo de uma frondosa árvore do parque municipal, insulta seu terapeuta e, concomitantemente, faz uma breve prece, desejando que ao invés do banco do parque estivesse esticada no macio divã em uma das sessões com seu psicanalista, dentro daquela sala de cheiro adocicado que sempre a incomodou, entrementes, você nem sabe se o cheiro vem do carpete, do banheiro ou se é algum tipo de aromatizante porque nunca perguntou por medo de ser indelicada.

Subitamente muda sua rota e resolve fazer o caminho de volta. Julga que um longo banho aliviará os efeitos maléficos da caminhada matinal.
Tem a ingênua ideia que a água do chuveiro levará com ela a inaceitável verdade: abster-se da escolha também é uma escolha e você arca com as consequências.
Literalmente, refaz seus passos e a calçada, que já era larga e espaçosa, parece estar ainda maior. Consegue enxergar a janela do prédio vizinho... Respira aliviada – “Calma, o apartamento está bem perto agora!” Fala em voz baixa na tentativa de acalmar seus pensamentos que parecem guiá-la a soluções insensatas:

_“E se eu tentasse... Se eu escolhesse... Se tivesse falado que não, que sim... Se... E se... E se eu tivesse uma máquina do tempo? Acorda!” - Grita a voz da razão.

Já em frente ao prédio, suas lágrimas querem simplesmente sair, mas as retém e sorri discretamente para o porteiro.
Repentinamente, começa a odiar aquele papel de parede do hall do prédio... Um papel cor crua: - “Tão discreto... Tom pastel... Parece nem estar ali! Nem é notado!” E no espelho do elevador tem a terrível constatação que sua roupa tem um tom pastel!
- “Que caminhada infeliz!” Pensa mais uma vez.

Como você deseja que água do chuveiro leve seus pensamentos e traga a calmaria!
“Não há como voltar, mas há como mudar, recomeçar... A arma contra o fracasso é como um imã que o atrai... Nossa! Melhor parar por aqui! Esses pensamentos me deixarão maluca!” Interrompe seu raciocínio. Os pensamentos parecem perigosos... Fazem barulho demais e podem despertar seus fantasmas.
A sensatez parece embriaguez.
Ao sair do banho, decide: - “Caminhada infeliz! Vou para hidroginástica!” Quem poderá julgar se a embriaguez, naquele instante, era o sinal mais evidente da pura sensatez?

Danielle Faria.

domingo, janeiro 16, 2011

Tepidez? Só em atestado de demência!


Odeio ter que te odiar!
Não suporto seu medo insensato de errar.
Perde muito mais pela sua estúpida inércia!
É tão obvio que me recuso a acreditar! Pensa que está seguro ao abandonar os riscos?
Suas chances de ouvir um frustrante NÃO, indubitavelmente, diminuirão, mas as oportunidades também desaparecerão.
Essa cegueira o matará!
Poderia assegurar que essas palavras traduzem minha alma caritativa... Minha maneira estranha de ajudá-lo... Mas não me presto para esse tipo de postura pérfida. Seria ridículo e falso!
Essa é só a voz egoísta do meu coração afrontando-te... Gritando o quanto é insuportável sentir sua passividade repulsiva, porque, infelizmente, a sinto!
É estranho e contraditório ser cruciante te odiar...

Danielle Faria.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Senhora Razão



Tenho a cabeça nas nuvens e ando com os pés no chão.
Alguns dizem que sou centrada e ponderada e, às vezes, sou... Precisei aprender a arte do equilíbrio e a linguagem universal da Senhora Razão.
Mas a emoção sempre precedeu minha excessiva coerência e a minha lógica, Descartes que me perdoe.
 
Ainda sou a mesma criança que fechava os olhos para “enxergar” o vento. Não bastava vê-lo agitando as folhas que cobriam a calçada...
Apetecia sentir o vento assoprar, acariciar meus cabelos, meu rosto... Sentia seu toque! 
Em meus pensamentos visualizava as mãos suaves e ligeiras da incitante ventania que me faziam cócegas.
Podia imaginá-las, e, porque não, enxergá-las!
 
Hoje a emoção parece incomodar as pessoas.
É como se a razão imperasse e condenasse a sensibilidade ao esquecimento.
Negligencia-se que a emoção e a razão precisam ser melodias  cadenciadas. A cadência nos humaniza.
 
Fabricam-se robôs!
Se uma criança chora, pois perdeu seu estimado brinquedo, o adulto logo a repreende: -“Pare de chorar por isso! É só um brinquedo!” - Não! Não é só um brinquedo que se perdeu, o carinho que a criança investiu nesse objeto também sucumbiu.
E quando você perde um alguém querido? A frase que mais se ouve é: “Não fique assim! Não chore!” – Isso é cruel! É o mesmo que dizer: peça a sua dor pungente e torturante para não doer! Não sinta...


Como gosto de manter minha cabeça nas nuvens!
Como me agrada sentir meus pés no chão!
Gosto de viver e a existência é complexa mesmo!
 
Ainda gosto de sentir o vento pueril...
Ainda imagino como seria se no final do arco-íris tivesse um pote de ouro...
Ainda amo intensamente sentir a chuva em meu corpo...
Ainda contemplo as estrelas e tento identificar as constelações...
Ainda me emociono quando ouço as ondas do mar...
 
Delicio o calor do abraço,
Saboreio o encontro dos lábios,
Digo eu te amo indistintivamente, desde que o sentimento seja autêntico: para minha família, meus amigos, meus amores...
Demonstro descontentamento e tenho meus momentos de revolta, raiva, indignação...
Sou humana!
Eh... Parece que o contexto me expurga.
Demonstrar carinho, respeito, empatia, solidariedade é considerado vetusto, obsoleto... Sinônimo de fraqueza e fracasso!
Bem-vindos a cultura calcada no cada um por si.
Talvez pelo julgamento alheio eu seja uma insana.
Espontaneidade, consciência coletiva transformaram-se em “patologias”.
Se for assim, sentarei no cais de um porto qualquer e embarcarei na 'Nau dos Loucos' como se estivesse peregrinando a bordo de um luxuoso cruzeiro, pois será esse o meu lugar.
Não estarei à deriva. Os ventos sopram rumo a felicidade.

Danielle Faria.

sábado, janeiro 08, 2011

Eles estão por aí!


Quando questionado, o lobo responde veemente: - "Sou uma ovelha!"
- "Que ovelha estranha!" - Você pensa instintivamente. E, por alguma razão, você lembra daquela história infantil... Aquela em que a criança com chapéu vermelho pergunta: _"E por que esses dentes grandes, vovó?"  
Pobre chapeuzinho vermelho! Nem imagina que atrás do disfarce da vovó amável, esconde-se o perigo.

Contudo, o lobo continua dizendo que é uma ovelha. 
Em silêncio você desconfia: - "será mesmo uma ovelha?" Logo, a sua razão, que nada entende da natureza atípica do lobo, a repreende: - "Pensamentos condenáveis os seus! Duvida desta figura tão 'amável'?" - Esse sempre é o raciocínio!
O lobo mostrou suas garras e seus dentes enormes prontos para te devorar... 
Ah! Mas você ainda acredita nas palavras do lobo? 
Ops! Desculpe-me... Lobo não! Acredita nas verdades da "Ovelha".
Resta-me advertir: cuidado com os dentes desta "ovelha".

Danielle Faria.
Postagem inspirada no livro "Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado", da psiquiatra e escritora Ana Beatriz Barbosa Silva. Para maiores informações acesse o site: http://www.medicinadocomportamento.com.br/dra_ana_beatriz_barbosa_silva_livros_sinopse2.php

"Frios, manipuladores, cruéis e destituídos de compaixão, culpa ou remorso. Utilizam-se de seu charme e inteligência para impressionar, seduzir e enganar quem atravessa o seu caminho. Estão camuflados de executivos bem-sucedidos, bons políticos, bons amigos, "pais e mães de família" e não costumam levantar suspeitas sobre quem realmente são." (Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado).