quarta-feira, janeiro 12, 2011

Senhora Razão



Tenho a cabeça nas nuvens e ando com os pés no chão.
Alguns dizem que sou centrada e ponderada e, às vezes, sou... Precisei aprender a arte do equilíbrio e a linguagem universal da Senhora Razão.
Mas a emoção sempre precedeu minha excessiva coerência e a minha lógica, Descartes que me perdoe.
 
Ainda sou a mesma criança que fechava os olhos para “enxergar” o vento. Não bastava vê-lo agitando as folhas que cobriam a calçada...
Apetecia sentir o vento assoprar, acariciar meus cabelos, meu rosto... Sentia seu toque! 
Em meus pensamentos visualizava as mãos suaves e ligeiras da incitante ventania que me faziam cócegas.
Podia imaginá-las, e, porque não, enxergá-las!
 
Hoje a emoção parece incomodar as pessoas.
É como se a razão imperasse e condenasse a sensibilidade ao esquecimento.
Negligencia-se que a emoção e a razão precisam ser melodias  cadenciadas. A cadência nos humaniza.
 
Fabricam-se robôs!
Se uma criança chora, pois perdeu seu estimado brinquedo, o adulto logo a repreende: -“Pare de chorar por isso! É só um brinquedo!” - Não! Não é só um brinquedo que se perdeu, o carinho que a criança investiu nesse objeto também sucumbiu.
E quando você perde um alguém querido? A frase que mais se ouve é: “Não fique assim! Não chore!” – Isso é cruel! É o mesmo que dizer: peça a sua dor pungente e torturante para não doer! Não sinta...


Como gosto de manter minha cabeça nas nuvens!
Como me agrada sentir meus pés no chão!
Gosto de viver e a existência é complexa mesmo!
 
Ainda gosto de sentir o vento pueril...
Ainda imagino como seria se no final do arco-íris tivesse um pote de ouro...
Ainda amo intensamente sentir a chuva em meu corpo...
Ainda contemplo as estrelas e tento identificar as constelações...
Ainda me emociono quando ouço as ondas do mar...
 
Delicio o calor do abraço,
Saboreio o encontro dos lábios,
Digo eu te amo indistintivamente, desde que o sentimento seja autêntico: para minha família, meus amigos, meus amores...
Demonstro descontentamento e tenho meus momentos de revolta, raiva, indignação...
Sou humana!
Eh... Parece que o contexto me expurga.
Demonstrar carinho, respeito, empatia, solidariedade é considerado vetusto, obsoleto... Sinônimo de fraqueza e fracasso!
Bem-vindos a cultura calcada no cada um por si.
Talvez pelo julgamento alheio eu seja uma insana.
Espontaneidade, consciência coletiva transformaram-se em “patologias”.
Se for assim, sentarei no cais de um porto qualquer e embarcarei na 'Nau dos Loucos' como se estivesse peregrinando a bordo de um luxuoso cruzeiro, pois será esse o meu lugar.
Não estarei à deriva. Os ventos sopram rumo a felicidade.

Danielle Faria.

6 comentários:

  1. Olá Dani,

    seu texto me fez lembrar aquela musica do Nando Reis "Não vou me adapatar". Fiquei emocionada e acho que perdi as palavras... Nunca pare de escrever...nunca parece de traduzir aquilo que a emoção do outro o impede de dizer.
    "O arranjador traduz nos acordes aquilo que o compositor coloca em palavras, e assim forma-se a melodia."

    Bjs Flor!!!

    Lana

    ResponderExcluir
  2. Várias partes do seu texto meu chamaram atenção, porém, irei destacar apenas uma: "Gosto de viver e a existência é complexa mesmo!" Nossa, sinceramente, eu fiquei muito feliz por ler isso, por saber que existem pessoas apaixonadas pela vida enquanto a maior parte está 'desajustada' dentro desse mundo . Saber se sustentar pelos próprios pés e lidar com o fato de estar nesse mundo, de forma positiva é genial!Infelizmente esse 'privilégio' é para poucos e você faz parte dos separados. :)

    ResponderExcluir
  3. Muito lindo!Estar neste mundo e ñ ser dele é uma tarefa árdua...Sonhar e acreditar q "existe um pote de mel no fim do arco-íris"é para quem conseguiu conservar o coração de criança,apesar de todas as investidas da vida para fazê-lo amadurecer e endurecer.Que DEUS te ajude a continuar com essa alma pura,com cheirinho de neném,minha linda e doce Bonequinha de Porcelana! Muitas beijocas!

    ResponderExcluir
  4. Passagem pra duas então, por favor.

    ResponderExcluir
  5. Cabe mais uma aí nesse barco com destino à felicidade? Lindo demais, Dani! Parabéns!

    ResponderExcluir