terça-feira, janeiro 17, 2012

Reflexões de uma adolescente

Estimo que essa escrita é do ano 1999/2000, época em que fazia o "Ensino Médio".
Uma folha pálida que achei dentro da minha antiga apostila de "Inglês".


Disponível em: http://somentecoisaslegais.com.br/2010/11/cartazes-criativos-do-designer-willian-sanfer/4701538848_a7c7eb2a95_z1/


Todos os anos as aulas de “Produção de Texto” ou as aulas de “Português” começam com uma produção textual nada inovadora. Às vezes, tenho a impressão que os meus professores reaproveitam o planejamento das aulas e os pincéis dos corretivos ensaiam passos, igualmente repetitivos, no último numeral do milhar: 1997 transforma-se em 1998, que se torna 1999...

Mudando do velho para o usado, o meu ano escolar começou com um texto – obrigatório – em que preciso discorrer sobre o complexo tema: “Quem sou eu?”.

Pior que o tema repetitivo, é a forma mentirosa que se traduz a minha escrita... Já decorei o percurso para ganhar um “visto” acrescido de um “excelente”, o que resultará em nota máxima.

Da última vez que fui criativa e elaborei um texto autêntico, ele foi rotulado de desrespeitoso... A professora se sentiu ofendida - acho que ficou particularmente incomodada com o parágrafo em que resgato parte da minha infância e a preocupação da minha mãe e da minha avó com a familiaridade que parecia haver entre a minha cabeça e o chão. O bom humor da escrita soou como afronta, assim imaginei. Não enxergava outros motivos e ninguém me deu outros para que eu pudesse refletir. Então...

Na época da possível “afronta”, quis responder: _ “Como um texto em que descrevo e desenvolvo sobre a perspectiva de ‘Quem sou eu?’ pode agredir o outro? Devo pedir desculpas por existir?”. Pensei e calei. Na verdade, ser filha de professora nem sempre é fácil. Todos esperam (exigem!) uma perfeição inexistente. É como se esperassem versos, rimas e parcimônia onde há crônicas, caos e muitos questionamentos.

A saída foi fingir saber sobre a minha vida e escrever o tal “Quem sou eu”... Um texto tão primário como um acróstico. E para premiar a farsa ganhei um falso “visto” acompanhado de um fingido “excelente”.

Farei um “Quem sou eu?” extra para aliviar minha consciência mentirosa.

Danielle Faria.

Obs.: Quando reli esse texto fiquei com aquela impressão que alfineta e acusa: _"Que horror! Parece que você (eu) odiava escola e as aulas em que precisava produzir textos". Um pensamento equivocado, pois essas eram as minhas aulas prediletas. Depois de pensar sobre o assunto, lembrei que minhas críticas eram relacionadas aos textos com temas livres que de "livre" só tinha o nome. Era uma "liberdade" acompanhada de um "mas", "contudo", "porém"... Penso que a escrita nasceu devido a uma breve revolta.

4 comentários:

  1. Cara amiga, te direi sem rodeios, publique um livro, não espere mais...Realmente não vejo razões que a façam ficar receosa com tal ideia. Você escreve muito bem. Reflexões de uma Adolescente é uma obra prima.

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  2. Vou usar as palavras do Juan: "Reflexões de uma Adolescente é uma obra prima." Quero autógrafo e dedicatória! Não espere mais, publique!
    Beijos Flor!!!

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  3. Depois de tanta coisa que já vi,acho que o mundo é mais ou menos assim: você pode ser o que quiser desde que você saiba fingir ser o que o mundo quer que você seja. Talvez seja por isso que existe tanto conflito na mente das pessoas. No ensino médio fui desafiada a fazer um texto(porque pra mim essas produções eram como desafios) e graças a esse texto minha permanência na escola foi salva. Depois de muitos problemas resolvi sair,precisava ficar em casa,ajudar minha mãe na recuperação do meu irmão. Mas esse texto foi transformado em uma peça de teatro que foi reapresentada algumas vezes na casa de cultura. Por isso recebi uma visita da orientadora (tia Cláudia,aquela da despedida cheia de choro na Julieta Ribeiro,lembra?)e diretora que entenderam que aquela decisão nunca partiu da minha família, mas de mim, e me fizeram ver que aquele não era o caminho. O texto ao meu ver era muito confuso,era assim a minha mente naquela época. E mesmo assim foi de grande importância pra minha vida inteira. Chego então ao ponto, talvez faltasse sensibilidade do profissional que ministrava essas aulas. Existem profissionais e pessoas com vocação pra trabalhar no que escolhem. As pessoas não enxergam que quando a pessoa está em formação tudo o que acontece a volta dela é importante,como resultado do que ela vai ser. Acho importante esse meio em que você divide suas experiências porque você sabe que muita gente te lê. É legal quando você pode ensinar as pessoas a parte de como NÃO agir...

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