quinta-feira, outubro 21, 2010

Confissões

Professora Thais (nossa paraninfa) formalizando a transição estudante/profissional. Reparem meus olhos, nariz... Rosto inchado de tanto chorar!


O soar do sino, o parque de madeira, as crianças em filas, a lousa verde, o cheiro dos livros da biblioteca... Lembranças que me emocionam.
Cresci dentro de escolas!
Quando frequentava a graduação, muitos colegas de classe não entendiam minha ligação com a universidade e, sinceramente, era difícil mesmo entender.--

_" Uma aluna que reside na mesma cidade em que estuda, portanto, pode sair de casa meia hora antes do início da aula, mas não! Chega a universidade com quatro horas de antecedência porque prefere estudar na biblioteca!" - Protestava Dani Rose balançando a cabeça e dando risadas.
_ "Como se não bastasse, depois do término da aula, continua fazendo perguntas aos professores. Isso só pode ser loucura mesmo!" - Dizia a Iara com uma cara de desanimar qualquer coração esperançoso.

Neste contexto, o diagnóstico - loucura só atenuava a situação, uma vez que éramos estudantes de Psicologia, mas isso nunca me incomodou. Se era para ser ou não louca, estava no lugar certo.

No tão sonhado dia da colação de grau, tive vontade de fugir do auditório. Certa que essa ideia era parcialmente insana pensei em pedir a palavra e decretar que a partir daquela data o curso de Psicologia iria durar dez anos, mas antes de me pronunciar imaginei meus colegas batendo na minha cabeça com o capelo e desisti imediatamente.
Enquanto todos se deliciavam pela conquista de concluir a graduação, chorava compulsivamente... Inconsolável... Tive a ligeira sensação de estar só e abandonada, mas procurava manter a calma, afinal, também festejava uma conquista, com uma empolgação visivelmente menor que a dos demais.

Após colação de grau, precisávamos devolver a beca. Lembro que saí do auditório como uma pessoa que procura em sua bolsa algo que perdeu.
Andava distraída quando fui abraçada pela professora Jane e me agarrei a ela na certeza que não perderia mais nada naquela noite. _"Dani, vai ficar tudo bem. Você está bem?" - Perguntava Jane. Respondi que sim. Uma resposta brevíssima! Não queria cometer o erro de falar o que eu pensava: _ "Estou péssima! Uma bomba retroativa seria uma ótima ideia nesse momento!"

O que relato é uma pequena parte dos cinco anos de graduação.
Há outros episódios como no dia em que a professora Thais comunicou que não iria dar mais aulas na universidade. Não conseguia olhar para seu rosto. Senti meu coração rasgando tal como se parte uma folha de papel. Doeu! Foi difícil, mas depois de um ou dois períodos me recuperei. Tudo passa!

Ou como no dia em que perdi minha voz. Até aí tudo bem. Quem nunca ficou rouco? Só que no meu caso, a apresentação do trabalho de CONCLUSÃO de curso seria em dois dias.
Escutei a Fideles, a mão amiga que apoiou minhas elucubrações, tentando me tranquilizar - obrigada Fideles.
Ouvi também pacientemente todas as piadas que sempre terminavam com o famoso bordão: -"Freud explica!" E ele explicava mesmo!

Pode até parecer loucura.
Pode até parecer um apego desmedido.
É que atrás deste texto, existe o contexto que poucos conheceram.
Todas as minhas lembranças estão intimamente associadas à escola. Acho que frequento esse espaço desde os dois anos de idade.

A primeira vez que preparei meu próprio leite foi sob a supervisão da Dª Maria, cantineira da escola.
Meu primeiro machucado, com pontos e tudo mais, aconteceu na escola quando tentava descer as escadas da quadra de esportes com um velotrol.
O primeiro desenho que fiz ilustrava uma professora escrevendo no quadro - na verdade, era uma bola informe e desproporcional, mas o que vale é a explicação do desenho. Ainda tenho a ilustração guardada no baú.
Brincava de ser professora com alunos de verdade, ao lado da minha mãe que dava aulas de História.
Tive amigos com idades variadas... Cinco, seis, oito, doze e adultos.
Nos meus aniversários sempre tinham professores que eram meus amigos também.
Antes da idade escolar - seis anos - escondia entre as estantes da biblioteca depois de fazer alguma travessura. Graças ao meu esconderijo li minha primeira palavra – "pipa" – antes de completar cinco anos.
Já brinquei de casinha e de labirinto com as carteiras da escola.
Já estraguei o canteiro de cebolinhas do senhor José, zelador da escola.
Já ouvi aulas sobre rotação e translação em pleno período do desenvolvimento infantil em que o egocentrismo é característica marcante - período pré-operatório, segundo Piaget.
Já brinquei de escorregar na cantina coberta de sabão em pó e água.
Tudo isso, antes de entrar no antigo pré-escolar.

Talvez analisando essa parte da história, a "loucura" torna-se explicável.
Sair da universidade significou sair da minha própria casa.

Sair da minha própria casa/universidade foi doloroso e necessário. É como Carlos Drummond de Andrade escreveu "nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra", mas foi porque havia a "pedra" que resolvi "plantar meu próprio jardim e decorar minha alma, em vez de esperar que alguém me trouxesse flores", agora, as palavras são de William Shakespeare. Palavras emprestadas para dizer de um caminho que é meu!
Cultivo o meu jardim... Encontro alguns espinhos, é verdade! Mas como é recompensador ver as sementes crescerem, sentir o cheiro das rosas e poder repousar vez ou outra sob a sombra da frondosa árvore que eu mesma plantei.

Danielle Faria.

4 comentários:

  1. Aiai Chamb's... kkkkkkkkkkkkkk... só você mesmo! Foi muita a coragem de postar um pouco da sua história. Poucos (as) tem tanto o que contar com tamanha profundidade! Você é especial e muito me enganarei se uma estrela não estiver destinada a você no céu dos seus dias... obrigado por essa vivência, minha amiga!!!

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  2. Éverton, sua presença no blog é muito importante! Você sabe disso! É meu grande incentivador!

    Agradeço aos meus colegas de faculdade que enriqueceram e continuam enriquecendo meus dias.
    Uma abraço saudoso as professoras: Thais, Jane, Karina e Juliana
    Obrigada a todos!

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  3. Lembro de tudo isso!
    Você cresceu na escola... Só saiu dela depois da colação de grau. Você se saiu bem!

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  4. No momento da devolução da beca meus sentimentos foram muito parecidos com os seus! Coisas que somente nós sabemos... Flor, você é uma pessoa muito especial! Bjs e meu carinho eterno!!!

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